10 de setembro de 2012

Vítimas da Talidomida dizem que pedido de desculpa é insuficiente


Empresa alemã pede desculpas 50 anos depois
Fabricante diz que não tinha como saber sobre o efeito da droga
10 mil crianças nasceram com malformações causadas pela droga
As vítimas da Talidomida, medicamento que causou defeitos congênitos em milhares de bebês no mundo todo, disseram no sábado que o pedido de desculpas do fabricante alemão era insuficiente e tardio.

O medicamento Talidomida, desenvolvido pela empresa alemã Gruenenthal, foi vendido para mulheres grávidas do mundo todo, no fim dos anos 50 e começo dos anos 60, como um tratamento para o enjoo matinal. Cerca de 10.000 crianças nasceram com defeitos causados pela droga, a maioria com malformações nos membros ou sem braços ou pernas.
"Tentei lembrá-los do seu comportamento criminoso em várias ocasiões, não acho que essa empresa algum dia fará a coisa certa", disse Geoff Adams-Spink, vítima britânica da Talidomida.

"Este é um primeiro passo importante. O próximo é compensar todos os que foram afetados pela sua então chamada droga 'totalmente inofensiva'," disse Adams-Spink, que lidera o European Dysmelia Reference Information Centre, um grupo de apoio para pessoas com malformações atribuídas à Talidomida e outras causas.

 A Gruenenthal, que diz ter pagado às vítimas cerca de 500 milhões de euros até 2010, inaugurou uma estátua comemorativa na sexta-feira. Na cerimônia, o presidente da empresa, Harald Stock, disse que a empresa sentia muito pelo que aconteceu com as vítimas.
"Em nome da Gruenenthal, quero aproveitar essa oportunidade para expressar o nosso profundo pesar pelas consequências causadas pelo Contergan e a nossa profunda solidariedade às vítimas, suas mães e famílias", disse Stock na cerimônia na cidade de Stolberg, na Alemanha, onde fica a sede da empresa.

CHOQUE SILENCIOSO

"Nós também pedimos perdão por não termos entrado em contato direto com vocês durante quase 50 anos. Pedimos que vocês entendam o nosso silêncio como um sinal do enorme choque que sofremos pelo o que aconteceu com vocês".
Milhares de vítimas da Talidomida, vendida na Alemanha com o nome de Contergan e no resto do mundo como Distaval ainda estão vivas.

Não foi possível fazer contato com a Gruenenthal para comentar o assunto e não ficou claro se os 500 milhões de euros foram pagos para vítimas apenas na Alemanha ou também no exterior, onde outras empresas também comercializaram a droga.
As vítimas alemãs da Talidomida recebem uma pensão mensal de até 1.116 euros de um fundo para o qual a Gruenenthal contribui. Uma australiana, cuja filha fez um acordo multimilionário em julho com a Diageo Plc, sucessora legal do distribuidor australiano da Talidomida, disse que o pedido de desculpas era um insulto.

"É o tipo de desculpas que você dá quando não está realmente se sentindo culpado", disse Wendy Rowe à Australian Broadcasting Corporation. Lynette Rowe, hoje com 50 anos, nasceu sem braços e pernas depois que sua mãe tomou Talidomida por um mês, durante a gravidez. Seus advogados disseram que a Gruenenthal não contribuiu para o acordo.

Falando sobre a declaração de Stock de "choque silencioso", Wendy Rowe disse: "Nossa família não poderia entrar em 'choque silencioso'. Tivemos que enfrentar a situação e viver dia após dia com o incrível dano que a droga da Greunenthal fez à Lyn e à nossa família".
O escândalo da Talidomida provocou uma revisão mundial no sistema de teste de drogas e aumentou a reputação da US Food and Drug Administration - o FDA, órgão que controla a liberação de medicamentos e alimentos dos EUA, que se recusou a aprovar a droga.
Muitas vítimas alemãs da Talidomida deixaram de comparecer à inauguração da estátua, que mostra uma criança com braços mais curtos, dizendo que isso não passava de uma ação de relações públicas.

Harold Evans, editor da Reuters que liderou a campanha pela compensação das vítimas da Talidomida quando foi editor do Sunday Times a partir do fim dos anos 60, disse que a justiça atrasada significava a justiça negada. "Cinquenta anos de injustiça não podem ser apagados com um pedido de desculpas, por mais sincero que seja, se ele não vem acompanhado de uma compensação pela dor e sofrimento que milhares de sobreviventes vivem diariamente", ele disse.

 Por Annika Breidthardt BERLIM, 1 Set (Reuters)

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