Empresa alemã pede desculpas 50 anos depois
Fabricante diz que não tinha como saber sobre o efeito da
droga
10 mil crianças nasceram com malformações causadas pela
droga
As vítimas da Talidomida,
medicamento que causou defeitos congênitos em milhares de bebês no mundo todo,
disseram no sábado que o pedido de desculpas do fabricante alemão era
insuficiente e tardio.
O medicamento Talidomida, desenvolvido pela empresa alemã
Gruenenthal, foi vendido para mulheres grávidas do mundo todo, no fim dos anos
50 e começo dos anos 60, como um tratamento para o enjoo matinal. Cerca de
10.000 crianças nasceram com defeitos causados pela droga, a maioria com
malformações nos membros ou sem braços ou pernas.
"Tentei lembrá-los do seu comportamento criminoso em
várias ocasiões, não acho que essa empresa algum dia fará a coisa certa",
disse Geoff Adams-Spink, vítima britânica da Talidomida.
"Este é um primeiro passo importante. O próximo é
compensar todos os que foram afetados pela sua então chamada droga 'totalmente
inofensiva'," disse Adams-Spink, que lidera o European Dysmelia Reference
Information Centre, um grupo de apoio para pessoas com malformações atribuídas
à Talidomida e outras causas.
"Em nome da Gruenenthal, quero aproveitar essa
oportunidade para expressar o nosso profundo pesar pelas consequências causadas
pelo Contergan e a nossa profunda solidariedade às vítimas, suas mães e famílias",
disse Stock na cerimônia na cidade de Stolberg, na Alemanha, onde fica a sede
da empresa.
CHOQUE SILENCIOSO
"Nós também pedimos perdão por não termos entrado em
contato direto com vocês durante quase 50 anos. Pedimos que vocês entendam o
nosso silêncio como um sinal do enorme choque que sofremos pelo o que aconteceu
com vocês".
Milhares de vítimas da Talidomida, vendida na Alemanha
com o nome de Contergan e no resto do mundo como Distaval ainda estão vivas.
Não foi possível fazer contato com a Gruenenthal para
comentar o assunto e não ficou claro se os 500 milhões de euros foram pagos
para vítimas apenas na Alemanha ou também no exterior, onde outras empresas
também comercializaram a droga.
As vítimas alemãs da Talidomida recebem uma pensão mensal
de até 1.116 euros de um fundo para o qual a Gruenenthal contribui. Uma
australiana, cuja filha fez um acordo multimilionário em julho com a Diageo
Plc, sucessora legal do distribuidor australiano da Talidomida, disse que o
pedido de desculpas era um insulto.
"É o tipo de desculpas que você dá quando não está
realmente se sentindo culpado", disse Wendy Rowe à Australian Broadcasting
Corporation. Lynette Rowe, hoje com 50 anos, nasceu sem braços e pernas depois
que sua mãe tomou Talidomida por um mês, durante a gravidez. Seus advogados
disseram que a Gruenenthal não contribuiu para o acordo.
Falando sobre a declaração de Stock de "choque
silencioso", Wendy Rowe disse: "Nossa família não poderia entrar em
'choque silencioso'. Tivemos que enfrentar a situação e viver dia após dia com
o incrível dano que a droga da Greunenthal fez à Lyn e à nossa família".
O escândalo da Talidomida provocou uma revisão mundial no
sistema de teste de drogas e aumentou a reputação da US Food and Drug
Administration - o FDA, órgão que controla a liberação de medicamentos e
alimentos dos EUA, que se recusou a aprovar a droga.
Muitas vítimas alemãs da Talidomida deixaram de
comparecer à inauguração da estátua, que mostra uma criança com braços mais
curtos, dizendo que isso não passava de uma ação de relações públicas.
Harold Evans, editor da Reuters que liderou a campanha
pela compensação das vítimas da Talidomida quando foi editor do Sunday Times a
partir do fim dos anos 60, disse que a justiça atrasada significava a justiça
negada. "Cinquenta anos de injustiça não podem ser apagados
com um pedido de desculpas, por mais sincero que seja, se ele não vem
acompanhado de uma compensação pela dor e sofrimento que milhares de
sobreviventes vivem diariamente", ele disse.
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