1 de agosto de 2012

De volta a vida



Nos chamados 'Jogos da Austeridade', Londres supera os fantasmas da guerra e sedia uma Olimpíada notável – na qual, mais do que em qualquer outra, o importante foi                          mesmo participar.
Em Londres, os sinais dos seis anos de guerra que esfacelaram a Europa ainda podem ser vistos e sentidos por toda a parte. Enquanto os prédios em ruínas e os escombros empilhados nas ruas escancaram as cicatrizes que a blitz nazista deixou na capital do império britânico, o racionamento de alimentos, de roupas, de materiais de construção e de combustível trata de seguir
atormentando a nação do rei George VI, às voltas com uma dívida de quase três vezes seu produto interno bruto. Em mais uma demonstração de força psicológica e espírito de luta, contudo, os londrinos, que há

menos de oito anos surpreenderam o planeta ao sobrepujar a até então invencível força aérea germânica na Batalha da Grã-Bretanha, lograram entregar ao mundo neste ano de 1948 uma Olimpíada, diante das circunstâncias, absolutamente irretocável. No papel, celebrou-se a 14ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna; na prática, ergueu-se um monumento vivo e pulsante em homenagem à liberdade e à esperança.

Entre 29 de julho e 14 de agosto, mais de 4.100 atletas de 59 países reuniram-se na Grã-Bretanha para a disputa do maior evento esportivo global desde Berlim-1936. E, mais do que pelo estabelecimento de recordes ou pela superação de limites pessoais, esses homens e mulheres transformaram-se em legítimos heróis olímpicos pelo simples fato de comungarem, ao lado dos 8 milhões de londrinos, de um esforço sem precedentes para vencer a herança maldita da guerra. Sem o capital para a construção de novas instalações para as provas, tratou-se de reformar e adaptar as existentes; diante do racionamento de comida, frutificou-se a solidariedade das nações, que partilharam tantos suprimentos quanto podiam; com a escassez de mão de obra, manifestou-se a dedicação dos competidores, que tiveram de comprar ou costurar seus próprios uniformes e levar suas próprias toalhas para os alojamentos improvisados. Nos chamados "Jogos da Austeridade", todos saíram vitoriosos.



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