Todas são maçãs,
mas têm características diferentes.
O mesmo
acontece com o tumor de mama
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Donizetti Ramos dos Santos, médico do Núcleo da
Mastologia do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo-SP
O câncer de mama é hoje uma doença presente em milhares de
famílias ao redor do mundo. Principalmente nos grandes centros urbanos, devido
à concentração populacional, o número de casos é expressivo.
Já se sabe que o câncer de mama não é uma doença única, mas,
sim, um grupo de moléstias distintas categorizadas com o mesmo nome. A
experiência também tem mostrado que pacientes com tumores muito iguais no
tamanho e na microscopia podem evoluir com prognósticos diferentes. No passado,
nós nos surpreendíamos com o fato de que algumas pacientes com tumores
volumosos apresentavam sobrevida longa e até eram passíveis de cura, enquanto
outras, com tumores minúsculos, logo evoluíam para disseminação da doença e
morriam. A grande interrogação que se impunha naquele momento era o que
determinava tamanha diferença.
Atualmente, a classificação usada para avaliar o risco de
recidiva dos tumores baseia-se em parâmetros morfométricos (tamanho do tumor,
presença ou não de comprometimento por neoplasia das ínguas axilares, formato
das células, entre outros). Apesar de útil, essa classificação não é muito
precisa, pois admite inúmeras variáveis. Diante dessa constatação, os
pesquisadores se voltaram para encontrar um método de avaliação que
determinasse com mais segurança o risco de recidivas. A resposta que
encontraram parece estar ligada ao genoma celular. Com base no maior
conhecimento das estruturas intra e extracelulares e de suas funções,
descobriram que certos receptores denominados oncogenes desencadeiam ou inibem
a multiplicação de uma célula com defeitos específicos para cânceres. Esses
receptores, que podem ser hormonais, fatores de crescimento, citocinas ou
neurotransmissores, estão presentes na superfície ou no interior das células e
estimulam, por vias especificas, os núcleos e as células alteradas a se
multiplicarem desenfreadamente formando um tumor. Sob tais condições, as
células tumorais perdem a capacidade de envelhecer e morrer, ou seja, a
capacidade de apoptose (morte celular programada). Só quando conseguimos controlar
esses receptores, modulando-os, podemos devolver às células a capacidade de
envelhecer e destruir o tumor.
Os medicamentos usados com tal propósito são chamados de
“drogas alvo”, Outra de suas vantagens é que apresentam efeitos adversos
menores que os da quimioterapia convencional (queda de cabelo, anemia,
infecções e outros). Quem determina as variáveis de receptores de ativação ou
inibição é o DNA celular (expressão gênica tumoral).
Após a decodificação do código genético humano, foi possível
criar perfis gênicos que oferecem um diagnóstico molecular para o câncer de
mama. O mais conhecido e utilizado é o Oncotype DX. Esse exame molecular avalia
21 genes relacionados com o crescimento e disseminação do câncer de mama.
Atualmente, ele é utilizado em pacientes que apresentam tumores com receptores
de estrógeno positivos, para prognosticar o risco de recidiva e a necessidade
ou não de adicionar um tratamento quimioterápico. Quando o Oncotype DX revela
que o tumor possui risco baixo de voltar, a quimioterapia poderá deixar de ser
realizada.
Em mais de 35% dos casos, o resultado desse teste permite
alterar a conduta médica previamente estabelecida, uma vez que oferece
elementos para determinar se uma paciente portadora de câncer de mama in
situ precisará ou não de radioterapia após a cirurgia.
Outros genes estão sendo testados e avaliados para
predizerem respostas a determinados medicamentos para o câncer de mama, por
exemplo, a resposta a taxanos e ao trastuzumab. Para outros tumores também já
existem testes para avaliar genes “mutados” ou não, que podem antecipar se
haverá resposta a um medicamento especifico.
Estamos no inicio de uma nova época na historia da medicina.
Isso nos autoriza dizer que, em futuros breve, baseados no estudo do genoma de
cada indivíduo, estaremos tratando pacientes com medicações feitas
especificamente para ele.
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