Novo medicamento para câncer de próstata aumenta
sobrevida de pacientes com a doença em estágio avançado. Testes mostraram que a
droga provoca menos efeitos colaterais e estende a expectativa de vida em cinco
meses comparada à quimioterapia tradicional.
A fase final de testes clínicos feitos com a
Enzalutamida, uma nova droga para tratar câncer de próstata, mostrou que o
medicamento promove uma maior sobrevida entre pacientes com a doença em estágio
avançado em comparação com a quimioterapia tradicional. O tempo médio em que a
expectativa de vida desses homens se estendeu foi de cinco meses e a substância
surtiu efeitos colaterais 'muito mais baixos' do que as já existentes. Os
resultados, publicados nesta quinta-feira no periódico The New England
Journal of Medicine, se aplicaram a pacientes que já haviam passado tanto pelos
tratamentos hormonais (que são usados como primeira opção) quanto pela
quimioterapia.
A terceira fase dos testes clínicos envolveu 1.199
pacientes que haviam sido diagnosticados com câncer de próstata e cuja doença
havia progredido mesmo com tratamentos hormonais e quimioterapia. Dois terços
desses homens receberam a droga estudada, a Enzalutamida, e o restante, doses
de placebo. A expectativa de vida média dos participantes que tomaram o
medicamento foi de 18,4 meses, enquanto a do dos pacientes que receberam
placebo foi de 13,6 meses. Além disso, os homens que tomaram a droga
apresentaram uma melhora em aspectos como retardamento da progressão da doença
e melhores resultados nos exames de PSA.
Mecanismo — De acordo com os autores da pesquisa,
quando tomada uma vez ao dia, via oral, essa droga bloqueia a capacidade de as
células cancerígenas se ligarem aos andrógenos, hormônios como a testosterona,
que ajudam no crescimento do câncer de próstata. Isso acontece pois a própria
substância se liga aos receptores de andrógenos das células cancerígenas,
tornando-se uma 'concorrente' dos hormônios na disputa por esses receptores.
"Estamos em um período de renascimento no tratamento médico de câncer de
próstata. Mesmo nessa fase inicial, a Enzalutamida é um divisor de águas”, diz
Flaig.
Cesar Câmara, urologista do Hospital
Sírio-Libanês, explica que, atualmente, o tratamento que tem como alvo a
ação dos hormônios busca bloquear a ação da testosterona. Ou seja, é outro tipo
de mecanismo. "No entanto, quando os pacientes passam a ser resistentes a
essas drogas, eles recebem a quimioterapia", diz. "Esse medicamento
pode, quem sabe, ser uma ferramente aplicada antes da quimioterapia, adiando a
adoção desse procedimento que é tão agressivo." Para Câmara, embora uma
expectativa de vida cinco meses maior pareça pouca, representa um grande avanço
no tratamento da doença, especialmente pelo fato de promover esse aumento com
qualidade de vida aos pacientes.
"Nós já estávamos de olho para sabermos os
resultados dos testes finais dessa droga. É um grande avanço, pois agora
sabemos o quanto ela prolonga a expectativa de vida desses pacientes, os seus
efeitos colaterais e a sua dosagem. Além disso, os testes foram feitos com um
número considerável de participantes.
Novos estudos devem mostrar as outras formas pelas quais
o medicamento poderá ser aplicado. Ou seja, se ele é eficaz antes da
quimioterapia ser feita ou até mesmo se ele pode ser utilizado como primeira
opção de tratamento, inclusive em casos de cânceres localizados (que não
tiveram metástase).
Isso representaria um grande avanço, já que seria
possível tratar um tumor em fase inicial com um comprimido, e não com um
procedimento cirúrgico, que é invasivo. E sem efeitos colaterais. O doente nem
sentiria fisicamente o tratamento. É o tratamento que os médicos estavam
esperando.
Novas pesquisas também poderiam mostrar se a droga
poderia melhorar os efeitos de outros tratamentos, como a própria quimioterapia
ou a radioterapia, garantindo uma maior chance de cura entre pacientes.”
Wilson Bachega Junior
Cirurgião oncologista do Hospital A. C. Camargo
Cirurgião oncologista do Hospital A. C. Camargo
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