O problema é que tanto o serviço público quanto o privado
desafiam a saúde e o fôlego dos brasileiros. O maior estorvo, é claro, está no
atendimento oferecido pelo governo. De acordo com levantamento realizado junto
a secretarias de saúde de sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,
Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba), ao menos 171.600 pessoas estão
na fila para fazer uma cirurgia eletiva - procedimento agendado, que não possui
característica de urgência. A demora, para a realização de um procedimento
ortopédico, por exemplo, pode levar até cinco anos.
Diante do caótico quadro da saúde pública, os brasileiros
se esforçam para manter planos privados. Atualmente, 26,3% da população - ou
49,1 milhões de pessoas - compromete parte da renda para ficar longe dos
hospitais públicos. O desafio é manter as contas em dias à medida que
envelhecem. Aos 60 anos, um assegurado pode ter que desembolsar mais de 700
reais para manter um plano básico, suficiente apenas para ocupar um leito de
enfermaria ao lado de outros pacientes, em caso de internação.
E as perspectivas não são boas. De acordo com estimativa
realizada pelo Idec e pelo Procon, se mantidas as atuais condições de
reajustes, nos próximos 30 anos, os planos de saúde deverão sofrer reajustes
126,67% acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). Em outras palavras, esse serviço se tornará proibitivo para boa parcela
da população que hoje o possui.
Por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
o governo já tentou regular o preço dos planos, colhendo alguns fracassos. E
nada indica que futuras intervenções obteriam resultado diferente. E isso tem
uma razão simples: as operadoras de saúde são empresas que realizam
investimentos em tecnologia, estrutura e pessoal, contraem despesas e precisam
honrar suas contas a cada final de mês. Elas estabelecem um valor a seus
serviços levando em conta o custo deles e os preços de mercado. Portanto,
pretender decretar o quanto essas companhias deveriam cobrar é uma medida que
desafia razões elementares de mercado - em, outras palavras, briga com a
realidade.
Frente a esse quadro, cresce ainda mais a importância da
discussão acerca do sistema público de saúde - alimentado com o dinheiro que
sai do bolso do contribuinte. Mas que, em geral, não trata bem esse cidadão.
Durante esta semana, VEJA.com vai analisar a realidade do
sistema público de saúde, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais,
para saber, afinal, que Brasil os candidatos pretendem construir nos próximos
quatro anos.
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